- Área: 37000 m²
- Ano: 2015
-
Fotografias:Tostoneone
-
Fabricantes: Aquadipòsits, Construccions Ausió, Pont de Queròs, Vivers Ter
Hortes de Baix é um espaço de irrigação histórico de 3,7 hectares anexo ao centro histórico de Caldes de Montbui, uma cidade termal fundada pelos romanos perto de Barcelona. Este espaço sofreu uma gradual degradação ambiental e social de sua paisagem. Este processo característico das paisagens periféricas do século XX foi aqui causada principalmente pela poluição da água do riacho que abastece o sistema de irrigação, pela pouca acessibilidade ao espaço e pelo colapso da comunidade de irrigação.
Estas hortas foram historicamente regadas com o excedente de lavadouros térmicos e com a água da chuva do córrego, despejada no principal canal de irrigação. Este canal, formado por paredes de pedra de quase 3 metros de altura, é o principal elemento do sistema de irrigação. Mas com o crescimento urbano, o córrego foi coberto e recebeu a maior parte do esgoto do centro urbano. O canal se tornou um esgoto a céu aberto. Isto tem causado risco de saúde para a produção hortícola, bem como prejudicado sua acessibilidade ao público (maus odores extremos e efeito visual). A limitada disponibilidade de água limpa provocou a reivindicação da água como um bem público, como uma herança a ser reintegrada ao imaginário da cidade.
O projeto nasceu no Conselho Municipal de Espaços Públicos, que dá voz a iniciativas locais para melhorá-los. A Câmara Municipal solicitou uma solução para resolver a demanda de mais água limpa para irrigação, canalizar o fluxo aberto de águas residuais e facilitar a acessibilidade do centro da cidade. Propusemos: recuperar a paisagem hortícola privada como um novo espaço público que incentiva a auto-suficiência alimentar; co-projetar o processo com a comunidade de irrigação e as partes interessadas; e reconhecer o valor essencial da gestão tradicional da água como um patrimônio material e imaterial.
Com a comunidade de 70 jardineiros, detectamos uma gestão inadequada da água excedente dos spas termais privados despejada no córrego; por isso, propusemos reutilizá-la para irrigação, assim como o excesso de água dos lavadouros térmicos. A partir de dois anos de ação participativa no processo de pesquisa, a comunidade de irrigação foi recuperada e empoderada, concordando com algumas intervenções limitadas, sem alterar o sistema de irrigação existente ou a sua gestão social. O projeto foi executado com €93.881,00 e um Plano Municipal de Emprego. A manutenção é assumida pela comunidade de irrigação.
Este projeto foi desenvolvido em duas fases: a gestão sustentável do sistema de irrigação e o percurso para melhorar a acessibilidade. Como parte do processo comunitário, a água excedente dos spas termais foi recuperada para irrigar os pomares, garantindo o fornecimento de água. Para isso, uma nova piscina pública foi construída para acumulação e diminuição da temperatura da água termal. A partir daí, pudemos manter e reciclar o sistema de irrigação existente para fornecer inundaçõespor gravidade, evitando a introdução de qualquer novo dispositivo mecanizado. Águas residuais são canalizadas para o coletor de esgoto, permitindo recuperar o canal principal existente com um novo caminho para melhorar o acesso à área. Isto é apoiado nas paredes de pedra para não alterar os vestígios da aparência do canal.
A presença de elementos de identidade de auto-construção de horticultura é reforçada: pedras de granito, tijolos artesanais de cerâmica, comportas manuais, malhas de arame e cercas. Nós reintroduzimos a árvore salgueiro, anteriormente utilizada para fazer cestos de vime aquecidas por água termal.Finalmente, um sistema piloto inovador foi desenvolvido: o fitotratamento com macrófitas plantadas em jardins flutuantes, para absorver matéria orgânica residual sem alterar a condição de oscilação da piscina.
Nós avaliamos o projeto em três níveis. Política: O Governo prometeu dignificar este lugar e se comprometeu ao longo e intenso processo participativo, que culmina com a criação de uma associação de jardineiros até então inexistente. Um conselho é criado para garantir a auto-gestão do espaço irrigado, o estabelecimento de normas internas, a comunicação com o conselho da cidade, a visibilidade do patrimônio histórico e a necessária transferência intergeracional de conhecimento local. Produtivo: a obtenção de água limpa permite a prática da agricultura orgânica e aumenta a irrigação. Em longo prazo, visitantes poderão consumir os produtos cultivados. Cívico: as hortas se tornam um espaço público aberto, promovendo o reconhecimento, a inclusão e a educação do espaço agrário.
A nova comunidade e a abordagem ecológica também desafiou a equipe de arquitetura a assumir o papel de mediadores e observadores, adotando referências conceituais inovadoras de campos disciplinares complementares e integrando colaboradores externos. Isto nos permitiu desenvolver novas ferramentas de tomada de decisão e comunicação para os aspectos técnicos do projeto.